Não
adianta! Notícias de pais que matam seus filhos ou filhos que matam seus pais
sempre me deixam mal. Hoje fiquei sabendo de mais uma dessas histórias, só que
doeu um pouco mais, por se tratar de um dos ícones do protestantismo
contemporâneo – Robinson Cavalcanti.
Tal
notícia, quase inacreditável, aprofundou reflexões anteriores a respeito de
mágoa acumulada. O cara foi influenciado por drogas, eu sei, mas quem sabe se
não há algo mais?
Eu
poderia afirmar, enquanto conhecedora do assunto, algo do tipo: que todo filho
envolvido com drogas tem “não ditos” cravados em sua identidade, fazendo jorrar
pra dentro de si mesmo uma sangria que resulta numa alma afogada em seus
desgostos, desespero e desesperança (passado, presente e futuro,
respectivamente). Mas há algo mais sutil que faz parte do cotidiano de nossos
relacionamentos, mais especificamente os familiares.
Enquanto
sala de aula da nossa conduta, os relacionamentos familiares são a maior e mais
dolorosa oportunidade de desenvolvimento, do jeito de ser, de agir e reagir.
Desgostoso
e altamente desanimador é quando atitudes e falas impensadas afetam a
comunicação, a relação.
Impensadas
mesmo?
A
gente pensa e muito! Sem se dar conta, a gente comenta... a gente julga... a
gente maquina... a gente acumula... a gente deixa apodrecer...
Aquela
velha atitude inconveniente do pai, a teimosia da mãe, os exageros da esposa, o
desleixo do marido, a esquisitice do cunhado, o orgulho de um irmão, o egoísmo
do outro, a chatice da vó, julgamentos, condenações e novos julgamentos, nossos
julgamentos!
Tenho
o gene do “guarda tudo”. Guarda papel, guarda roupa furada, guarda o ingresso
do cinema que você foi com alguém especial, guarda vidro de maionese usado. Ao
tempo que detesto uma mala pesada (morro de vergonha!), quando comecei a viajar
e me mudar com frequência, tive que virar a craque do desapego. Ainda tenho
meus livros, mas nenhuma cartinha ou relíquia. Preciso de roupas novas porque
deixei muitas para trás.

Às
vezes esqueço de lembrar e aí os contra tempos, os arranhões, o cheirinho
desagradável de coisa apodrecendo aparece e lembra de quais deveriam ser meus
passos nessa caminhada.
Não
acumulemos, não julguemos, nem condenemos. Nos transformemos, mutuamente, antes
que apodreçamos, matemos e morramos.
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