segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Quem se importa com o lado avesso?


Não adianta! Notícias de pais que matam seus filhos ou filhos que matam seus pais sempre me deixam mal. Hoje fiquei sabendo de mais uma dessas histórias, só que doeu um pouco mais, por se tratar de um dos ícones do protestantismo contemporâneo – Robinson Cavalcanti.

Tal notícia, quase inacreditável, aprofundou reflexões anteriores a respeito de mágoa acumulada. O cara foi influenciado por drogas, eu sei, mas quem sabe se não há algo mais?

Eu poderia afirmar, enquanto conhecedora do assunto, algo do tipo: que todo filho envolvido com drogas tem “não ditos” cravados em sua identidade, fazendo jorrar pra dentro de si mesmo uma sangria que resulta numa alma afogada em seus desgostos, desespero e desesperança (passado, presente e futuro, respectivamente). Mas há algo mais sutil que faz parte do cotidiano de nossos relacionamentos, mais especificamente os familiares.

Enquanto sala de aula da nossa conduta, os relacionamentos familiares são a maior e mais dolorosa oportunidade de desenvolvimento, do jeito de ser, de agir e reagir.

Desgostoso e altamente desanimador é quando atitudes e falas impensadas afetam a comunicação, a relação.

Impensadas mesmo?

A gente pensa e muito! Sem se dar conta, a gente comenta... a gente julga... a gente maquina... a gente acumula... a gente deixa apodrecer...

Aquela velha atitude inconveniente do pai, a teimosia da mãe, os exageros da esposa, o desleixo do marido, a esquisitice do cunhado, o orgulho de um irmão, o egoísmo do outro, a chatice da vó, julgamentos, condenações e novos julgamentos, nossos julgamentos!

Tenho o gene do “guarda tudo”. Guarda papel, guarda roupa furada, guarda o ingresso do cinema que você foi com alguém especial, guarda vidro de maionese usado. Ao tempo que detesto uma mala pesada (morro de vergonha!), quando comecei a viajar e me mudar com frequência, tive que virar a craque do desapego. Ainda tenho meus livros, mas nenhuma cartinha ou relíquia. Preciso de roupas novas porque deixei muitas para trás.

Tento fazer disso, mais do que reciclagem, algo para me lembrar sempre que não devo guardar aqueles julgamentos e condenações instantâneos das atitudes, especialmente dos meus mais queridos. Se eu acumulo, começa a sangrar, a feder e tem uma hora que vasa... Não posso ter medo de mudar e de muda-los, se necessário. Tem que parar e refletir, se colocar no lugar do outros, matutar sobre suas reais motivações e a partir disso, tirar a limpo, pedir perdão, expor o lado avesso de si, sem medo.

Às vezes esqueço de lembrar e aí os contra tempos, os arranhões, o cheirinho desagradável de coisa apodrecendo aparece e lembra de quais deveriam ser meus passos nessa caminhada.

Não acumulemos, não julguemos, nem condenemos. Nos transformemos, mutuamente, antes que apodreçamos, matemos e morramos.

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